O ato de se batizar gera
dúvidas na cabeça de algumas pessoas.
Sabe-se que é uma ordenança: “Quem
crer e for batizado será salvo” (Marcos 16:16), mas muitos ainda não
entendem seu real significado.
Por que as pessoas se batizam?
E depois de batizado, o que acontece comigo? Devo mudar minha maneira de viver
ou posso permanecer do mesmo jeito, sem mudanças?
O que o batismo produz naquele
que realmente entende seu significado?
Spurgeon em um de seus sermões tenta responder alguns
desses questionamentos, o qual descrevi abaixo alguns trechos.
Espero que o Espírito Santo de
Deus fale ao seu coração e que você compreenda qual era a vontade de Deus
quando orientou o homem a respeito desse tão importante passo.
O batismo – Uma sepultura – Charles Haddon Spurgeon
“Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em
Jesus Cristo fomos batizados na sua morte? De sorte que fomos sepultados com
ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os
mortos, pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida..”
(Romanos 6:3-4)
Que não se entre em controvérsia neste texto sobre
o batismo, por mais que sobre ele alguns tenham levantado questões sobre o
batismo infantil e adulto, imersão ou aspersão. Eu me contento em aceitar o ponto de vista
que o batismo significa um sepultamento dos crentes nas águas em nome do
Senhor, e assim eu irei interpretar o texto.
Se alguém tem outra
perspectiva, deveria ao menos se interessar em saber qual o significado que
damos ao rito do batismo, e espero que não discordem do sentido espiritual
apenas por diferirem do sinal externo. Que
Deus Espírito Santo nos ajude a chegar ao ensino real.
Quando leio o versículo acima,
não entendo que Paulo esteja dizendo que pessoas impróprias como os incrédulos,
hipócritas, e enganadores batizados o sejam na morte de nosso Senhor. Ele
diz “todos nós que”, colocando-se com o resto dos filhos de Deus. Ele
pretende dizer que estes são os que tem direito ao batismo, e que a ele vem com
seus corações em um estado correto.
Ele nem mesmo pretende dizer que todos
aqueles que foram batizados por direito tiveram completo entendimento do seu
significado espiritual; pois, se o tivessem, não haveria necessidade da
pergunta: “Ou não sabeis?” Parece que havia alguns
batizados que não sabiam realmente o significado de seu próprio batismo. Eles
tinham fé, e uma quantidade de conhecimento suficiente para torná-los dignos
recebedores do batismo, porém não haviam sido corretamente instruídos na
doutrina do batismo; talvez só estivesse enxergando no batismo o aspecto da
lavagem, mas ainda não discerniram a característica do enterro.
Eu irei além, ao questionar se
algum de nós conhece de maneira plena o significado das ordenanças que Cristo
instituiu.
Oh, que Deus nos ensine
diariamente aquilo que já sabemos em parte, e que a verdade que vimos de forma
embaçada venha a nós de forma mais clara, até vermos tudo como que na presença
da total luz do sol. Isso só pode ocorrer se nosso caráter se tornar mais claro
e puro; pois vemos de acordo com o que somos; e tal como é o nosso
olho, assim também é como vemos. O puro de olhos só pode ver um Deus Santo e
Puro. Seremos como Jesus quando o virmos como Ele é (I João
3:2), e certamente não o veremos como Ele é até sermos como Ele. Nas coisas
celestiais nós O vemos tanto quanto nós O temos em nós mesmos.
O batismo anuncia
a morte, sepultamento e a ressurreição de Cristo, e também nossa comunhão com
Ele. Seu ensino tem dois pontos. Primeiro,
pensem na união representativa com Cristo, de tal forma que,
quando nosso Senhor foi morto e enterrado, foi para nosso próprio benefício, e
desta forma fomos enterrados com Ele. Isso nos ensina do batismo na medida que
declara abertamente uma crença. Declaramos através do batismo que cremos na
morte e Jesus, e desejamos comungar de todo Seu mérito.
Mas há outro assunto tão importante quanto este:
trata-se da realização da nossa união com Cristo, que é demonstrada
por meio do batismo, não tanto como uma doutrina da nossa confissão, mas como
uma experiência nossa. Há um tipo de morte, de sepultamento, de
ressurreição, e de viver em Cristo que deve se apresentar em todos nós que
realmente somos membros do corpo de Cristo.
Nosso Senhor Jesus é o
substituto do Seu povo, e quando Ele morreu foi para o bem desse povo e em seu
lugar. A grande doutrina da nossa
justificação depende disso, que Cristo tomou nossos pecados, ficou em nosso
lugar, e como nosso procurador sofreu, sangrou, e morreu para apresentar em
nosso lugar um sacrifício pelo pecado. Nós devemos nos lembrar dEle,
não como uma pessoa privada, mas como nosso representante. Somos enterrados com
Ele no batismo até a morte para mostrar que O aceitamos como sendo para nós.
O Batismo como um
enterro com Cristo significa, primeiro, aceitar a morte e sepultamento
de Cristo como sendo para nós. Vamos
fazer isso agora mesmo com todo o nosso coração. Que outra esperança temos?
Quando nosso Divino Senhor desceu das alturas da glória e tomou sobre si a
nossa humanidade, Ele se tornou um comigo e com você; e, tendo sido
achado em forma humana (Filipenses 2:7), ao Pai agradou colocar
o pecado sobre Ele, até mesmo os seus e os meus pecados (Isaías 53).
Ele subiu ao
madeiro carregado com toda essa culpa, e lá Ele sofreu em nosso lugar e
legalmente foi penalizado como nós deveríamos sofrer.
Não aceitamos gratos a Jesus
como nosso substituto?
Se não O aceitam, vocês devem
sofrer a própria culpa e carregar seu próprio sofrimento, e estar de pé no seu
próprio lugar diante do olhar da justiça de Deus.
Agora, sendo sepultados com Cristo no batismo,
selamos que a morte de Cristo foi em nosso benefício, e que estávamos com Ele,
e morremos nEle, e, como prova de nossa fé, consentimos na tumba de água, e nos
deixamos ser sepultados de acordo com Seu mandamento. Esse é um fato de
fé fundamental – Cristo morto e sepultado por nós; em outras palavras,
substituição, procuração, sacrifício vicário. Sua morte é a base da
nossa segurança: não somos batizados no Seu exemplo, ou em Sua vida, mas em Sua
morte. Aqui nós confessamos que toda a nossa salvação depende da morte
de Jesus, cuja morte nós aceitamos como tendo acontecido por nosso beneficio.
Mas isso não é tudo; pois se eu devo ser sepultado,
não deve ser tanto porque eu aceito a morte substitutiva de outro por mim , mas
por que eu mesmo estou morto. Batismo é um reconhecimento de nossa
própria morte em Cristo.
Meu sepultamento com Cristo não significa somente
que Ele morreu por mim, mas que eu morri nEle, de tal forma que minha morte com
Ele precisa de um enterro com Ele. Jesus morreu por nós porque ele é um conosco (João
17:11, 21).
Era necessário Cristo sofrer
por esta razão – que Ele era o representante do Seu povo pela aliança. Ele é a
Cabeça do corpo, a Igreja; e se os membros pecaram, entende-se que a Cabeça,
ainda que não tenha pecado, deva sofrer as consequências das ações do corpo.
Olhem para isso, ó filhos de
Deus, e não temam. Essas são grandes verdades, seguras e confortantes.
Aquele que recebeu
o pagamento do pecado deve aprender como evitá-lo no futuro.
Você é então um
com Jesus, de tal forma que você deve considerar a morte dEle como a sua morte; Seus sofrimentos como o castigo que lhe traz a
paz (Isaías 53: 5). Você morreu na morte de Jesus, e agora por uma
graça estranha e misteriosa você é resgatado do poço de corrupção (Salmo
40:1-2) para uma vida nova. Como você poderia voltar novamente
ao pecado? Você viu o que Deus pensa do pecado: você percebe que Ele o abomina
totalmente; pois quando foi posto sobre Seu Filho Amado, Ele não O poupou,
mas O pôs em sofrimentos e O levou à morte. Pode você, depois disso, voltar-se
àquela coisa maldita que Deus odeia? Certamente, o efeito dos grandes
sofrimentos do Salvador sobre seu espírito deve ser a santificação.
Como podemos nós, que já
passamos debaixo da maldição (Gálatas 3:13-14), e suportamos
sua pesada punição, tolerar seu poder?
O texto nos
descreve como sepultados, mas com a perspectiva de ressurreição. “Fomos,
pois, sepultados com Ele na morte pelo batismo;” – com qual objetivo? – “para
que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, assim também andemos nós em
novidade de vida.”
Agora, você deve ir aonde
Cristo for.
Se você é de fato
um com Cristo, você deve ser um com Ele e passar por tudo; Você será um com Ele
na morte, e um com Ele no seu sepultamento, e então você virá a ser um com Ele
em Sua ressurreição.
Sou agora um homem morto? Não,
bendito seja o Seu nome, pois está escrito que “porque eu vivo, vós
também vivereis” (João 14:19).
Pois “a
vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus” (Colossenses 3:3).
Que coisa gloriosa é ter
retornado dos mortos, porque Cristo nos deu vida. Nossa velha vida foi tirada
de nós pela sentença da lei, e a lei nos vê como mortos (Romanos 7:1-6);
mas agora recebemos uma nova vida, uma vida fora da morte, uma vida ressurreta
em Cristo Jesus. A vida do cristão é a vida de Cristo. Agora, pois, andamos nós
em novidade de vida (Romanos 6:4), frutificando para a santificação (Romanos
6:22), justiça, e alegria pelo Espírito de Deus. A vida na carne é para nós
um obstáculo; nossa vida está no Seu Espírito.
Se Deus deu a você
e a mim uma vida inteiramente nova em Cristo, como pode essa vida ser
desperdiçada da mesma forma que a vida velha? Há o espiritual que quer viver como carnal? Como podem vocês que
eram os servos do pecado, que foram libertos pelo sangue precioso, voltar à
velha escravidão (Gálatas 5:1)?
Se vocês vivem em
pecado, vocês serão falsos na sua profissão de fé; pois como professarão
estarem vivos para Deus (Romanos 6:11)? Se
vocês andam na concupiscência, vocês vão pisar as doutrinas benditas da Palavra
de Deus, pois elas levam à santidade e pureza. Você faria do cristianismo apenas uma palavra e um provérbio se, depois
de tudo, vocês que saíram da morte espiritual exibissem uma conduta em nada
melhor que a vida do homem comum, e um pouco superior à vida que você mesmo
levava.
O Espírito Santo nos deu uma
nova natureza, e por mais que estejamos no mundo, não somos dele, mas somos feitos
novo homem, “criados em Cristo Jesus”
(Efésios 2:10).
Se vocês de fato são um com Cristo, o mundo deveria
os achar se sujando? Deveriam os
membros de uma Cabeça generosa e graciosa, invejarem e serem gananciosos?
Deveriam os membros de uma Cabeça gloriosa, pura e perfeita, ser depredados com
as concupiscências da carne e com as vaidades de uma vida em vão? Se os crentes
são de fato identificados com Cristo de forma tal que eles são Seu tudo, eles
mesmos não deveriam ser santos?
Eu sou chamado a viver como Cristo viveria em
minhas circunstâncias; escondido em meu quarto ou em público, eu sou
chamado a ser o que Cristo seria no mesmo caso. Eu sou chamado a provar aos homens que aquela
união com Cristo não é ficção, nem sentimento fanático: mas que somos movidos
pelos mesmos princípios e agimos pelos mesmos motivos.
UMA UNIÃO REAL COM CRISTO
também acontece no batismo, e isso é mais uma questão de experiência que de
doutrina.
O cristão está morto – morto, primeiro, para
o domínio do pecado. Toda
vez que o pecado lhe chamava, antes, ele respondia, “aqui estou”. O
pecado mandava em seus membros, e se dizia, “faça isso,” ele o faria, como o
soldado obediente ao seu centurião; pois o pecado mandava em todas as partes da
sua natureza, e exercia sobre ele uma tirania suprema.
Mas a graça mudou tudo isso.
Quando nos convertemos nos tornamos mortos para o domínio do pecado. Se o
pecado nos chama agora, recusamos a ir para ele, pois estamos mortos. Se
o pecado nos dá um comando nós não o obedecemos, pois estamos mortos para a sua
autoridade.
Bendito seja Deus, o pecado
não pode reinar sobre nós, por mais que possa nos assediar e nos trazer mal. “Porque
o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e sim da
graça.” Nós pecamos, mas sem permissão. Com tristeza
olhamos para as nossas transgressões! Quão sinceramente nos empenhamos em
evitá-las! O pecado tenta manter seu poder usurpador sobre nós; mas não o
reconhecemos como soberano.
“Não têm os homens piedosos
desejos de pecado?” A velha natureza que há neles deseja o pecado; mas o homem
verdadeiro, o ego real, deseja ser purgado de qualquer espécie ou traço de mal. A
lei que opera em seus membros corre para o pecado, mas a vida no coração
constrange à santidade (Romanos 7:14-23).
O pecado é meu
fardo, não meu prazer; minha miséria, não meu deleite; pensando nisso eu clamo,
“desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?”
(Romanos 7:24). No centro do
nosso coração, nosso espírito se inclina firmemente para o que é bom, verdadeiro
e celestial, de tal forma que o homem real tem prazer na lei de
Deus, e busca de todo coração o que é bom. A verdadeira tendência atual do
desejo e vontade de nossa alma não é para o pecado.
Irmãos, há entre vocês alguém que
professa ser servo de Deus vivendo para si mesmo? Então vocês não são
servos de Deus; pois aquele que realmente nasceu de novo vive para Deus: o
objetivo de sua vida é a glória de Deus e o bem dos seus semelhantes. Esse
é o prêmio colocado à frente do homem movido por Deus, e para isso ele corre. Conquistar
o “prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” (Filipenses 3:14).
Estamos no mundo, e temos que viver
como os outros homens vivem, mas não nos agarramos a isso; nossos alvos
estão além de algo mutável. O voo de nossa alma, como o da águia, está
acima dessas nuvens: como aquele pássaro que do sol recebe luz nas rochas, que
mesmo descendo às planícies, seu maior prazer é planar buscando a luz, indo
acima das nuvens negras de tempestade, e olhando para todas as coisas terrenas
como inferiores. Semelhantemente nossa vida que nos foi dada
graciosamente segue em frente e acima; não somos do mundo, e as questões do
mundo não são aquelas em que gastamos a maioria das nossas forças.
O caminho dos ímpios é traçado
pela mão do desejo egoísta: mas vocês que são verdadeiros cristãos têm outro
guia, vocês são liderados pelo Espírito em um caminho direito. Você
pergunta, “o que é bom e o que é aceitável aos olhos do Altíssimo?”
Sua oração diária é “Senhor, mostra-me o que queres que eu faça”. Vocês
estão vivos para o ensino do Espírito, que os conduzirá a toda a verdade; mas
vocês estão surdos, sim, mortos para os dogmas da sabedoria carnal, às
oposições da filosofia, aos erros da orgulhosa sabedoria dos homens.
Conhecemos a voz
do pastor, e não seguiremos o estranho (João 10:4-5). Um é o vosso professor, e submetemos nosso
entendimento à sua instrução infalível.
Coisas que as multidões
consideravam com alegria, e falavam exaltando-as, não davam prazer ao seguidor
de Jesus, pois ele estava morto para tais males. Essa
é a nossa confissão solene quando decidimos nos batizar. Falamos, por atos que
são mais audíveis que palavras, que estamos mortos para aquelas coisas em que
os pecadores se deleitam, e queremos ser assim considerados.
O pensamento seguinte em
batismo é a sepultura. Primeiro vem a morte, e então se segue o
sepultamento.
Enterro é, antes de tudo, o
selo da morte; é o certificado da perda.
Eu temo que muitos tenham sido
enterrados vivos no batismo, e tenham posteriormente se levantado e saído da
sepultura como estavam.
Vejo como nosso Mestre não
possuía a estima dos ímpios quando clamavam “crucifica-o! Crucifica-o!” por
mais que nenhuma corrupção poderia chegar perto de Seu corpo santo, ainda assim
Seu caráter perfeito não era saboreado por aquela geração perversa. Deve haver,
portanto, em nós a morte para o mundo, e alguns dos efeitos da morte, ou nosso
batismo é vão. Tanto quanto o sepultamento é a prova da morte, então nosso
enterro com Cristo é o selo de nossa mortificação para o mundo.
Batismo é o rito funerário pelo qual a morte para o
pecado é abertamente estabelecida diante de todos os homens.
Quando a morte do crente para
o mundo é totalmente conhecida: ele é má companhia na opinião dos mundanos, e
eles o vêm como o estraga-prazeres. O verdadeiro santo é colocado em separado
na mesma classe que Cristo, de acordo com Sua palavra, “Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós” (João
15:20).
Pois, quanto a ter morrido, de uma vez morreu para
o pecado; mas, quanto a viver, vive para Deus.” (Romanos
6:9-10). Se de fato fomos
vivificados das obras mortas nós jamais devemos voltar-nos a elas. Eu posso até pecar, mas o pecado não
pode ter domínio sobre mim; eu posso ser um transgressor e ir longe do meu
Deus, mas jamais eu poderia voltar à velha morte novamente. Quando a
graça do meu Senhor me tomou, e me enterrou, ela forjou em minha alma a
convicção que dali em diante e para sempre eu era para o mundo um homem morto.
O pecado pode encantar o homem velho
dependurado na cruz, e ele deve até virar o seu olho luxuriante naquela
direção, mas ele não pode seguir seu relance, pois ele não pode descer da cruz:
O Senhor teve o cuidado de martelar bastante, e Ele pregou suas mãos e pés
firmemente, de tal forma que a carne crucificada permanecerá no lugar de
sofrimento e morte. Sendo isso também verdade, a genuína vida que está em
nós não pode morrer, pois nasceu de Deus; nem pode habitar em tumbas, pois seu
chamado é à pureza e alegria e liberdade; e a esse chamado se rende.
Chegamos até a morte e o sepultamento; mas o
batismo, de acordo com o texto, representa também a ressurreição: “como
Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, assim andemos nós também em
novidade de vida” (Romanos 6:4).
Nenhum morto está
ressuscitado, mas o nosso Senhor mesmo é “as
primícias dos que dormem” (I Coríntios 15:20). Ele é o primogênito
dos mortos (Colossensses 1:18). A
Ressurreição foi uma obra especial no corpo de Cristo pela qual Ele foi levantado,
e aquela obra, que começou na cabeça, vai continuar até todos os membros serem
co-participantes,
Pois para nossa alma e espírito, a ressurreição
começou em nós. Não chegou a
nossos corpos ainda, mas será dada a eles no dia determinado. No presente
um trabalho especial foi forjado sobre nós pelo qual fomos levantados dentre os
mortos.
Você foi uma vez igual a todos os pecadores ao seu
redor, morto em pecado (Efésios 2:1), e dormindo a cova encomendada pelo mal. O Senhor pelo Seu
poder chamou você para fora de sua tumba, e agora você está vivo entre os
mortos.
Agora, eu clamo a vocês, não
volte e cave na terra, para abrir as covas e achar um amigo lá.
O homem que está realmente vivo para Deus não pode
suportar atos de injustiça, opressão, ou impureza pois a vida se opõe à
corrupção.
Eu estou certo de que houve um
deleite no coração de Deus ao trazer de volta a vida ao corpo de Seu Filho
amado. E assim, quando eu e você somos tirados de nossa morte em pecados, não é
meramente o poder de Deus, não é meramente a sabedoria de Deus que é vista, é a
“glória do Pai”.
Se a menor centelha de vida espiritual tem de ser
criada pela “glória do Pai”, qual será a glória daquela vida quando chegar à
perfeição plena, e quando formos como Cristo, e vê-lo como Ele é (I João 3:2)! Oh amados, tenham em alta conta a nova vida
que Deus lhes deu. Pensem nela em lhes tornando mais ricos do que se vocês
tivessem um mar de pérolas, mais do que se vocês tivessem descendido do mais
elevado dos príncipes. Há em você
aquilo que requer todos os atributos de Deus para vir a existir.
A vida de um cristão é algo inteiramente diferente
da vida de outros homens, totalmente diferente da sua própria vida antes de sua
conversão, e quando as pessoas tentam falsificá-la, eles não conseguem.
A vida divina é uma novidade
tão grande que o irregenerado não tem uma cópia com que trabalhar. Em todo
cristão ela é tão nova como se ele fosse o primeiro cristão. Ainda que em todos
haja a imagem e a inscrição de Cristo, ainda há uma borda branqueada ou algo
dessa prata verdadeira que esses falsificadores não podem copiar. É algo novo,
uma história, algo fresco de Deus. E essa vida é algo ativo.
Tão logo recebemos a nova vida
nos tornamos ativos: não sentamos e dizemos, “eu recebi uma nova vida: quão
grato eu devo estar. Eu vou na quietude usufruir disso”.
Nós temos de fazer algo
diretamente enquanto estamos vivos, e começamos a andar, e assim o Senhor
mantém-nos durante toda a nossa vida em Sua obra; ele não nos permite ficar
sentados contentes com o mero fato de vivermos, nem permite que gastemos nosso
tempo examinando se vivemos ou não; mas nos dá uma batalha para lutar, e a
seguir outra; Ele nos dá Sua casa para
construir, Sua fazenda para arar, Seus filhos para cuidar, e Suas ovelhas para
alimentar.
Às vezes temos tempos de lutas
ferozes com nosso próprio espírito, e tememos que o pecado e Satanás enfim
prevaleçam, até que nossa vida seja dificilmente reconhecida, mas ela sempre é
reconhecida pelos atos. A vida que é dada àqueles que estavam mortos,
com Cristo, é uma vida enérgica, forte, que está sempre ocupada para Cristo,
e, se pudesse, moveria céus e terra para sujeitar todas as coisas àquele que é
sua Cabeça.
Essa vida Paulo nos diz que não tem fim.
Uma vez recebida, nunca sairá de você. “havendo Cristo ressuscitado dos
mortos já não morre; a morte não mais terá domínio sobre ele“. É também uma vida que não está mais debaixo do
pecado ou da lei. Cristo veio sob a lei enquanto estava aqui (Gálatas 4:4), e teve os nossos pecados
sobre si (Isaías 53:6), e assim
morreu; mas depois que Ele ressuscitou não havia mais pecado sobre Ele. Em Sua ressurreição tanto o pecador quanto
o Fiador estão livres.
Não temos pecados mais para carregar; está tudo
sobre Cristo. O que temos
de fazer? Toda vez que tivermos uma dor de cabeça, ou nos sentirmos enfermos,
acharmos que, “é a punição pelo pecado?” Nada disso. Nossa punição foi
plenamente satisfeita, pois recebemos a sentença capital, e estamos mortos:
nossa nova vida deve ser para Deus.
Eu tenho agora que servi-lO e
ter prazer nEle, e usar o poder que Ele me deu para chamar outros dos mortos,
“desperta, ó tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te
iluminará” (Efésios 5:14). Eu não vou voltar à cova da morte
espiritual nem ao meu caixão de pecado; mas pela graça divina vou continuar a
crer em Jesus, e ir de força em força, não debaixo da lei, não temendo o
inferno, nem esperando merecer o céu, mas como uma nova criatura (II
Coríntios 5:17), amando por ter sido amado primeiro (I João 4:19),
vivendo para Cristo pois Cristo vive em mim (Gálatas 2:19-20), ardentemente
esperando a glória que será revelada (Romanos 8:18) em virtude da minha união
com Cristo.
Pobre pecador, você não sabe
nada sobre essa morte e sepultamento, e nunca saberá até que você tenha o poder
de ser chamado filho de Deus (João 1:12), que Ele dá a todos
os que crêem no Seu nome.
Creia no Seu nome, e
será todo seu.
Deus abençoe sua vida!