O que você sabe a respeito de Cristo? Já olhou-o com o
coração? O que sentiu ao contemplá-lo?
Verdadeiramente o amor de Cristo constrange os que o viram,
não de maneira superficial, mas com os olhos da alma.
Deus revela seu perdão e amor ao coração do homem, através
do Espírito Santo. É ELE quem convence o homem do pecado, da justiça e do
juízo. (João 16:8)
O Espírito Santo provoca um quebrantamento no coração, permitindo-lhe enxergar seu estado e necessidade da graça de Deus
oferecida através da pessoa bendita de JESUS CRISTO.
Quer motivos para arrepender-se? Olhe para JESUS como um
cordeiro oferecendo-se em seu lugar...
Você sabia que até mesmo para arrepender-se precisará da ajuda de Deus? O verdadeiro arrependimento que produz frutos não é algo que se consiga sem a ajuda do Espírito Santo de Deus.
Charles Haddon Spurgeon relata a respeito do arrependimento,
no sermão abaixo:
O MOTIVO MAIS IMPORTANTE PARA O ARREPENDIMENTO
“Olharão
para aquele a quem traspassaram.” (Zacarias 12.10)
O quebrantamento santo que faz um homem lamentar o seu pecado surge de
uma operação divina. O homem caído não pode renovar seu próprio coração. O
diamante pode mudar seu próprio estado para tornar-se maleável, ou o granito
amolecer a si mesmo, transformando-se em argila? Somente aquele que estendeu os
céus e lançou os fundamentos da terra pode formar e reformar o espírito do
homem. O poder de fazer que da rocha de nossa natureza fluam rios de
arrependimento não está na própria rocha. O poder está no onipotente Espírito de
Deus… Quando Deus lida com a mente do homem, por meio de suas operações
secretas e misteriosas, Ele a enche com uma nova vida, percepção e emoção.
“Deus… me fez desmaiar o coração” (Jó 23.16), disse Jó. E, no melhor sentido,
isso é verdade. O Espírito Santo nos torna maleáveis e nos tornamos receptíveis
às suas impressões sagradas…
O
enternecimento do coração e o lamento pelo pecado são produzidos por olharmos,
pela fé, para o Filho de Deus traspassado. A verdadeira tristeza pelo pecado
não acontece sem o Espírito de Deus. Mas o Espírito de Deus não realiza essa
tristeza sem levar-nos a olhar para Jesus crucificado. Não há verdadeiro
lamento pelo pecado enquanto não vemos a Cristo… Ó alma, quando você chega a
contemplar Aquele para quem todos deveriam olhar, Aquele que foi traspassado,
então seus olhos começam a lamentar aquilo pelo que todos deveriam chorar – o
pecado que imolou o seu Salvador!
Não há
arrependimento salvífico sem a contemplação da cruz… A essência desse
arrependimento é olhar para Aquele que foi moído pelos pecados… Observe isto:
quando o Espírito Santo realmente opera, Ele leva a alma a olhar para Cristo.
Nunca uma pessoa recebeu o Espírito de Deus para a salvação, sem que tenha
recebido dEle o olhar para Cristo e o lamentar por seus pecados.
A fé e o
arrependimento são gerados e prosperam juntos. Ninguém pode arrepender-se do
pecado sem crer em Jesus, nem crer em Jesus sem arrepender-se do pecado. Olhe,
então, com amor para Aquele que derramou seu sangue, na cruz, por você. Por
meio desse olhar, você obterá perdão e quebrantamento. Quão admirável é o fato
de que todos os nossos males podem ser curados por um único remédio: “Olhai
para mim e sede salvos, vós, todos os limites da terra” (Is 45.22). Contudo,
ninguém olhará para Cristo sem que o Espírito de Deus o incline a fazer isso.
Ele não conduz uma pessoa à salvação, se ela não se rende às suas influências e
não volve seu olhar para Jesus…
O olhar
que nos abençoa, produzindo quebrantamento de coração, é o olhar para Jesus
como Aquele que foi traspassado. Quero me demorar nisso por um momento. Não é
somente o olhar para Jesus como Deus que afeta o coração, mas também olhar para
este mesmo Senhor e Deus como Aquele que foi crucificado por nós. Vemos o Senhor
traspassado, e, em seguida, inicia-se o traspassamento de nosso coração. Quando
o Espírito Santo nos revela Jesus, os nossos pecados também começam a ser
expostos…
Venham,
almas queridas, vamos juntos à cruz, por um pouco, e notemos quem era Aquele
que recebeu a lançada do soldado romano. Olhe para o seu lado e observe aquela
terrível ferida que atingiu seu coração e desencadeou um duplo fluxo de sangue.
O centurião disse: “Verdadeiramente este era Filho de Deus” (Mt 27.54). Aquele
que, por natureza, é Deus e governa sobre tudo, sem o Qual “nada do que foi
feito se fez” (Jo 1.3), tomou sobre Si mesmo nossa natureza e se tornou homem,
como nós, mas não tinha qualquer mácula de pecado. E, vivendo em forma humana,
foi obediente até à morte, morte de cruz. Foi Ele quem morreu! Ele, o único que
possui a imortalidade, condescendeu em morrer! Ele, que era toda a glória e
poder, sim, Ele morreu! Ele, que era toda a ternura e graça, sim, Ele morreu!
Infinita bondade esteve pendurada na cruz! Beleza indescritível foi traspassada
com uma lança! Essa tragédia excede todas as outras! Por mais perversa que
tenha sido a ingratidão do homem em outros casos, a sua mais perversa
ingratidão se expressou no caso de Jesus! Por mais horrível que tenha sido o
ódio do homem contra a virtude, o seu ódio mais cruel foi manifestado contra
Jesus! No caso de Jesus, o inferno superou todas as suas vilezas anteriores,
clamando: “Este é o herdeiro; ora, vamos, matemo-lo” (Mt 21.38).
Deus
habitou entre nós, e os homens não O aceitaram. Visto que o homem foi capaz de
traspassar e matar o seu Deus, ele cometeu um pecado horrível. O homem matou o
Senhor Jesus Cristo e O traspassou com uma lança! Nesse ato, o homem mostrou o
que fariam com o próprio Eterno, se pudesse chegar até Ele. O homem é, em seu
coração, assassino de Deus. Ele se alegra e fala que Deus não existe. Ele diz
em seu coração: “Não há Deus” (Sl 14.1). Se a sua mão pudesse ir tão longe
quanto o seu coração, Deus não existiria nem mesmo por mais uma hora. Isto dá
ao traspassamento de nosso Senhor uma forte intensidade de pecado: foi o
traspassamento de Deus.
Por quê?
Por que razão o bom Deus foi assim perseguido? Oh! pelo amor de nosso Senhor
Jesus Cristo, pela glória de sua Pessoa, pela perfeição de seu caráter, eu lhe
peço – admire-se e envergonhe-se de que Ele foi traspassado! Não foi uma morte
comum. Aquele assassinato não foi um crime comum. Ó homem, Aquele que foi
traspassado com a lança era o seu Deus! Na cruz, contemple o seu Criador, o seu
Benfeitor, o seu melhor Amigo!
Olhe
firmemente para Aquele que foi traspassado e observe o Sofredor que é descrito
na palavra “traspassado”. Nosso Senhor sofreu severa e terrivelmente. Não
posso, em uma mensagem, descrever a história de seus sofrimentos – as tristezas
de sua vida de pobreza e perseguição; as angústias do Getsêmani e do suor de
sangue; as tristezas de seu abandono, traição e negação; as tristezas no
palácio de Pilatos; os golpes de chicotes, o cuspe e o escárnio; as tristezas
da cruz, com sua desonra e agonia… Nosso Senhor foi feito maldição por nós. A
penalidade do pecado ou o que lhe era equivalente, Ele a suportou, “carregando Ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados” (1 Pe 2.24). “O
castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos
sarados” (Is 53.5).
Irmãos,
os sofrimentos de Jesus devem amolecer nosso coração! Neste dia, lamento o fato
de que não me entristeço como deveria. Acuso a mim mesmo daquele endurecimento
de coração que eu condeno, visto que posso contar-lhes essa história sem
enternecimento de coração. Os sofrimentos de meu Senhor são indescritíveis.
Examinem e verifiquem se já houve tristeza semelhante à de Jesus! A sua
tristeza foi abismal e insondável… Se você considerar firmemente a Jesus
traspassado por nossos pecados e tudo que isso significa, seu coração se
dilatará! Mais cedo ou mais tarde, a cruz desenvolverá todo sentimento que você
será capaz de produzir e lhe dará capacidade para mais. Quando o Espírito Santo
põe a cruz no coração, o coração se dissolve em ternura… A dureza de coração
desaparece quando, com profundo temor, contemplamos a Jesus sendo morto.
Devemos
também observar quem foram os que traspassaram a Jesus. “Olharão para aquele a
quem traspassaram.” Ambos os verbos se referem às mesmas pessoas. Nós matamos o
Salvador, nós que olhamos para Ele e vivemos… No caso do Salvador, o pecado foi
a causa de sua morte. O pecado O traspassou. O pecado de quem? Não foi o pecado
dEle mesmo, pois Ele não tinha pecado, e nenhum engano se achou em seus lábios.
Pilatos disse: “Não vejo neste homem crime algum” (Lc 23.4). Irmãos, o Messias
foi morto, mas não por causa dEle mesmo. Nossos pecados mataram o Salvador. Ele
sofreu porque não havia outra maneira de vindicar a justiça de Deus e de
prover-nos um escape da condenação. A espada, que deveria cair sobre nós, foi
despertada contra o Pastor do Senhor, contra o Homem que era o Companheiro de
Jeová (Zc 13.7)… Se isso não quebranta nem amolece nosso coração, observemos
por que Ele foi levado a uma posição em que poderia ser traspassado por nossos
pecados. Foi o amor, poderoso amor, nada mais do que o amor, que O levou até à
cruz. Nenhuma outra acusação Lhe pode ser atribuída, exceto esta: Ele era
culpado de amor excessivo. Ele se colocou no caminho do traspassamento, porque
resolvera salvar-nos… Ouviremos isso, pensaremos nisso, consideraremos isso e
permaneceremos apáticos? Somos piores do que os brutos? Tudo que é humano
abandonou a nossa humanidade? Se Deus, o Espírito Santo, está agindo agora, uma
contemplação de Cristo derreterá o nosso coração de pedra…
Quero
dizer-lhes ainda, ó amados: quanto mais olharmos para Jesus crucificado, tanto
mais lamentaremos o nosso pecado. A reflexão crescente produzirá sensibilidade
crescente. Desejo que olhem muito para Aquele que foi traspassado, para que
odeiem cada vez mais o pecado. Livros que expõem a paixão de nosso Senhor e
hinos que cantam a sua cruz sempre foram bastante queridos pelos crentes
piedosos, por causa de sua influência sobre o coração e a consciência deles. Vivam
no Calvário, amados, até que viver e amar se tornem a mesma coisa. Diria
também: olhem para Aquele que foi traspassado, até que o coração de vocês seja
traspassado.
Um antigo
teólogo dizia: “Olhe para a cruz, até que tudo que está na cruz esteja em seu
coração”. E acrescentou: “Olhe para Jesus, até que Ele olhe para você”. Olhem
com firmeza para a sua Pessoa sofredora, até que Ele pareça estar volvendo sua
cabeça e olhando para você, assim como o fez com Pedro, que saiu e chorou
amargamente. Olhe para Jesus, até que você veja a si mesmo. Lamente por Ele,
até que lamente por seu próprio pecado…
Ele sofreu em lugar, em favor e em benefício de homens culpados. Isso é o
evangelho. Não importa o que os outros preguem, “nós pregamos a Cristo
crucificado” (1 Co 1.23). Sempre levaremos a cruz na vanguarda. A essência do
evangelho é Cristo como substituto do pecador. Antes e acima de tudo, pregamos Aquele que
foi traspassado. Isso levará ao arrependimento evangélico, quando o Espírito de
graça for derramado.
Extraído do sermão matinal de domingo 18 de setembro de 1887, no
Tabernáculo Metropolitano de Londres.
Tradução: Pr. Wellington Ferreira