Gn 5.24 “E andou Enoque com
Deus e já não era; pois Deus o tomou para si”.
Enoque andou com Deus e era
tão precioso aos SEUS olhos que Deus o tomou para si.
Quão inspirador é esse
versículo! Uma criatura em sua vida consegue agradar tanto o Criador que ELE deseja
tê-la mais perto.
Mas afinal como definir a expressao "andar com Deus"?
Seria ouvir falar de Seus feitos e aceitar
JESUS CRISTO como Salvador ou “além” do que foi falado, também
esforçar-se diariamente para ser agradável a Deus?
Andar com Deus é um ato
contínuo que requer esforço e comprometimento.
Você precisa demonstrar que
está andando com Deus através de suas atitudes, palavras, caráter, ou seja,
através da sua vida.
Supõe-se não ser uma tarefa
tão fácil, pois em alguns momentos significará negar seus próprios desejos e
vontades, mas a medida que você anda com alguém, torna-se parecido com essa
pessoa.
Imagine que glorioso
cumprir-se em sua vida o propósito inicial de criação do homem, ser “imagem e
semelhança de DEUS”.
Estive lendo um sermão de
George Whitefield, que explica como andar com Deus e gostaria de
compartilhá-lo. Que o Espírito Santo de Deus use-o para falar melhor em cada
coração que o ler. “Andando com Deus – George Whitefield” :
São várias as desculpas e razões nas quais os homens se baseiam para não obedecerem aos justos e santos mandamentos de Deus. Porém, talvez uma das objeções mais frequentes que fazem é esta, que os mandamentos de nosso Deus não são praticáveis porque são contrários à carne e ao sangue, por conseguinte, consideram-NO um Deus severo que: “ceifa onde não semeou e ajunta onde não espalhou”.
Descobrimos que esses eram os
sentimentos nutridos por aquele mau e negligente servo mencionado no capítulo 25
do Evangelho segundo Mateus, e sem dúvida é o mesmo sentimento cultivado pela
geração má e adúltera de hoje. O Espírito Santo, já prevendo isso, teve o cuidado
de inspirar homens santos da Antiguidade, para que registrassem exemplos de muitos
homens e mulheres santos, os quais, mesmo debaixo da dispensação do Antigo
Testamento, foram capazes de alegremente tomar sobre si o jugo de Cristo, e de
considerar o serviço dele como perfeita liberdade. A grande lista de santos,
confessores e mártires registrada no capítulo 11 de Hebreus abundantemente
prova tal verdade. Que grande nuvem de testemunhas foi-nos apresentada ali! E
todas devido a sua fé.
Um desses exemplos está
encerrado nestas palavras: “Enoque andou com Deus” e “ele já não era, pois Deus
o tomou para si”. Ele não era, ou seja, não foi mais encontrado. Ele não foi
levado da maneira comum, ele não viu a morte, pois Deus o trasladou (Hebreus 11:5).
O testemunho desse homem
agradou a Deus e o fato de ter sido trasladado foi uma prova que não deixou
nenhuma dúvida. E maravilhosa foi a sabedoria Deus em trasladar Enoque e Elias
sob a dispensação do Antigo Testamento, para que, doravante, quando se
assegurasse que o Senhor Jesus foi levado ao céu, não parecesse inacreditável
aos judeus, visto que eles mesmos confessavam que dois de seus próprios profetas
haviam sido transportados centenas de anos antes.
E “Enoque andou com Deus”. Se isso pudesse ser dito de você e de mim
depois de nossa morte, certamente não haveria razão alguma de nos queixarmos de
havermos vivido.
Desenvolvendo o assunto proposto, pretendo mostrar abaixo:
1. O que está implícito nas palavras “andou com Deus”.
2. Prescrever alguns meios pelos quais, devidamente obedecidos, os
crentes possam
acompanhar e manter o seu andar com Deus.
3. Apresentar algumas razões para nosso incentivo, pois, se nós nunca
antes andamos
com Deus, que a partir de agora venhamos a e caminhemos com ELE
agora.
Primeiro, o que devemos entender por andar com Deus, significa que o
poder predominante da hostilidade do coração de uma pessoa foi removido pelo bendito
Espírito de Deus. Talvez algo duro de se dizer a alguns, no entanto, nossa
experiência diária prova o que as Escrituras em muitas passagens afirmam: que a
mente carnal, a mente do homem natural não-convertido, ou melhor, a mente do não-regenerado, que permaneça
não-renovada, tem inimizade contra Deus; de forma que
não está sujeita à lei de Deus. Realmente, é de se admirar que alguma criatura,
especialmente esta adorável criatura homem, feita imagem e semelhança de seu
Criador, possuísse qualquer inimizade, muito menos contra esse mesmo Deus no
qual o homem vive, se move e existe. Mas assim o é. Nossos primeiros pais
contraíram esta hostilidade quando, por ocasião da queda, separaram-se de Deus
comendo do fruto proibido, permitindo que o amargo e maligno contágio se
espalhasse para sua descendência inteira. Esta inimizade veio à tona no esforço de Adão ao esconder-se atrás das árvores do jardim. Ao ouvir a voz do
Senhor Deus, em vez de correr em sua direção com o coração aberto dizendo:
“Aqui estou!”; ele agora não queria nenhuma comunhão com Deus e sua hostilidade
ficou mais aparente através da desculpa que deu ao Altíssimo: “A mulher (ou,
esta mulher) que você me deu, ela me deu do fruto, e eu comi”. Com efeito,
dizendo isso Adão responsabiliza Deus, e é como se ele tivesse dito: Se tu não
tivesses me dado esta mulher, eu não teria pecado contra ti, portanto, és o
culpado da minha transgressão”. E dessa mesma maneira essa inimizade está no
coração dos filhos de Adão. E assim, atacam tudo que tenha aparência de
verdadeira piedade.
Essa inimizade se revela em Caim, que odiou e assassinou
seu irmão Abel porque era amado por seu Deus. E essa mesma inimizade governa e
prevalece em cada homem gerado da descendência de Adão. A partir de então, a
aversão à oração e aos deveres santos é encontrada muito frequentemente nas
pessoas, mesmo que tenham sido abençoadas com uma educação religiosa. E todo
esse pecado e impiedade manifestos, que como um dilúvio têm inundado o mundo,
são somente riachos correndo desta fonte horrivelmente contaminada, quero dizer,
a inimizade do mau e enganoso coração do homem. E aquele que não pode endossar
isso, não conhece nada ainda (não de uma maneira salvífica) das Sagradas
Escrituras nem do poder de Deus, pois todo aquele que entende isso prontamente
reconhecerá que antes que se possa dizer que alguém anda com Deus, essa
hostilidade de coração deverá ser aniquilada, pois as pessoas que entre si
mantêm ódio e inimizade irreconciliável uma contra a outra, não costumam andar
juntas nem compartilhar entre si a companhia.
Atentem ao que eu digo, o poder dessa hostilidade deve ser tirado, apesar
da essência deste sentimento nunca ser totalmente removida até curvarmos definitivamente
nossas cabeças e rendermos o espírito. O apóstolo Paulo, de maneira queixosa ao
falar de si mesmo, e não se referindo ao tempo em que era um fariseu, mas já como
um verdadeiro cristão, lamenta que, quando queria fazer o bem, o mal estava
presente, não tendo domínio sobre ele, porém, se opondo e resistindo às
suas boas intenções e, assim, ele não fazia as coisas que queria, ou seja, na
perfeição que o novo homem desejava.
Porém, esse poder é gradualmente destruído em cada alma que é
verdadeiramente nascida de Deus, ficando mais e mais enfraquecido na medida em
que o crente cresce em graça e o Espírito de Deus vai tendo ascendência cada
vez maior sobre o seu coração.
Segundo, andar com Deus não significa somente que o poder da
inimizade que dominava o coração do homem foi retirado, mas também que a pessoa de fato é
reconciliada com Deus Pai, em e através da justiça e expiação todo-suficientes
de seu querido Filho.
“Podem dois caminhar juntos se não houver entre eles acordo?” (Am 3.3).
Jesus é nossa paz, bem como o mediador dela. Quando somos justificados pela fé
em Cristo, então, e somente a partir daí, temos paz com Deus e consequentemente
podemos dizer que andamos com Ele.
O andar com uma pessoa é um sinal e prova de que são amigos ou pelo
menos, ainda que tenham tido divergências, revela que se reconciliaram e se
tornaram amigos de novo. Esta é a grande mensagem que os ministros do Evangelho
estão proclamando. A nós é confiado o ministério da reconciliação, como embaixadores
de Deus, nós temos que rogar aos pecadores, no lugar de Cristo, a se reconciliarem
com Deus e, quando eles atendem a este gracioso convite e são realmente, pela fé,
trazidos a um estado de reconciliação com Deus, então, e só então, eles podem
dizer que estão começando a andar com Deus.
Terceiro, andar com Deus implica em estabelecer uma firme e
permanente comunhão e amizade com Ele, ou o que nas Escrituras é chamado “O
Espírito Santo habitando em vós”.
Isso foi o que Nosso Senhor prometeu quando disse aos discípulos que
o Espírito Santo estaria neles e com eles, não como um caminhante, que chega para
passar a noite e parte no dia seguinte, mas para estabelecer morada, fazer sua
habitação em seus corações.
Através desse texto, creio, que o apóstolo João queria que
compreendêssemos que quando ele se refere a uma pessoa permanecendo em Cristo,
ela deve andar como se Ele mesmo estivesse andando. E é o que particularmente
significam as palavras de nosso texto: “E andou Enoque com Deus”, ou seja, ele
manteve e cultivou uma santa, firme, habitual, indubitável e ininterrupta
comunhão e amizade com Deus, em e através de Jesus Cristo. Ou seja, andar com
Deus consiste especialmente em costumeiramente curvar-se diante da vontade
divina, numa habitual dependência de seu poder e promessa, numa usual e voluntária
dedicação total à sua glória, num exame frequente de seus preceitos em tudo o
que fazer e numa costumeira autossatisfação em agradá-lo mesmo em meio aos sofrimentos.
Quarto, andar com Deus importa progredir ou avançar na vida divina. A
ideia principal da palavra “andando” parece supor um movimento progressivo. A pessoa
que caminha, ainda que se mova vagarosamente, vai adiante e não continua no
mesmo lugar. E assim é com aqueles que andam com Deus. Eles prosseguem como diz
o salmista, “de força em força” ou na linguagem do apóstolo Paulo: “somos
transformados de glória em glória na sua própria imagem”.
Porém, em alguns casos, quando a vida divina impõe barreiras, encontrarmos
o povo de Deus culpando-O, apostatando sua fé e perdendo seu primeiro amor. E é
por isso que ouvimos falar de bebês, jovens e pais em Cristo. Nesse sentido, o apóstolo Paulo exorta Timóteo: “que o teu progresso seja a todos
manifesto”; e o que aqui é exigido de Timóteo em particular, o apóstolo Pedro
impõe a todos os cristãos em geral: “antes, crescei na graça e no conhecimento
de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo”. Pois a nova criatura cresce em
estatura espiritual e, ainda que uma pessoa seja uma nova criatura, ainda assim
haverá alguns que serão mais conformados à imagem divina do que outros. Por
falta de observar essa distinção, até algumas graciosas almas cujos corações
são melhores do que suas cabeças, e também homens corruptos, réprobos no
tocante à fé, têm, de forma despercebida, negado todo o crescimento da graça em
um crente, ou quaisquer sinais de graça declarada nas Escrituras da verdade.
Que de tais coisas possa o Senhor dos senhores nos livrar!
Do que foi dito, podemos agora entender o que está encerrado nas
palavras “andando com Deus”, a saber, ter sido de nós removida - pelo poder do
Espírito de Deus – essa inimizade que prevalecia em nossos corações, e que
agora vivemos realmente reconciliados e unidos a Deus pela fé em Jesus Cristo.
Agora temos em nós e cultivamos uma firme comunhão e amizade com Ele, e fazemos
progresso diário no relacionamento com Deus, a fim de sermos conformados mais e
mais à imagem divina.
Para manter esse andar com Deus, em primeiro lugar, os crentes precisam
ler sua santa Palavra. “Examinem as Escrituras, pois elas é que testificam de mim”
diz nosso bendito Senhor. E o nobre salmista diz: “a palavra de Deus é lâmpada para os
meus pés e luz para os meus caminhos”, e estabelece-a como característica de um
homem bom, o qual “tem seu deleite na lei do Senhor, e se exercita nela dia e
noite”. “Entrega-te à leitura”, diz Paulo a Timóteo. E Deus diz a Josué: “E
este livro da lei não se afaste de tua boca”. Pois tudo o que dantes foi
escrito, o foi para o nosso aprendizado. E a Palavra de Deus é útil para ensino,
repreensão, correção, instrução na justiça, e de todas as maneiras suficientes
para tornar cada filho de Deus perfeitamente habilitado para toda a boa obra.
Se nós nos envaidecermos no nosso conhecimento bíblico e deixarmos de fazer da
Palavra escrita de Deus nossa única regra de fé e conduta, rapidamente ficaremos
expostos a todas as formas de engano e em grande perigo de naufragarmos na fé e
na sã consciência. Nosso bendito Senhor, sempre ressaltava “está escrito”, e dessa maneira lutou com
o diabo. A isso o apóstolo chama de “a espada do Espírito”. As Escrituras criam
uma nova vida em nós, a mantêm e a desenvolvem em nossas almas. O apóstolo
Pedro, em sua segunda epístola escreve: “Temos, assim, tanto mais confirmada a palavra profética e fazeis bem em atendê-la, como a
uma candeia que brilha em lugar tenebroso, até que o dia clareie e a estrela da
alva nasça em vosso coração”: isto é, até que deixemos este corpo e possamos
então ver Jesus face a face. Até lá, devemos ver e conversar com Ele através do
espelho de sua Palavra. Devemos fazer do seu testemunho nosso conselheiro e
diariamente, como Maria, sentar aos pés de Jesus e pela fé ouvir sua palavra.
Então descobriremos, por feliz experiência, que as Escrituras são de fato
espírito e vida, comida e bebida para nossas almas.
Em segundo lugar, os crentes devem conservar e sustentar seu andar
com Deus através da oração em segredo. O espírito da graça vem sempre
acompanhado do espírito da súplica. Ele é o próprio fôlego de vida da nova
criatura, o sopro da vida divina, por meio da qual a centelha do fogo santo é
acesa na alma por Deus, e não é apenas mantida, mas cresce e se transforma em
uma chama. A negligência de orar em secreto tem sido frequentemente uma abertura
a muitas doenças espirituais e tem sido acompanhada de consequências fatais.
A oração é uma das partes mais nobres da armadura espiritual do cristão.
“Orai sem cessar” diz o apóstolo “com toda a sorte de súplicas”. “Orai e
vigiai” diz Nosso Senhor, “para que não entreis em tentação”. E Ele contou uma
parábola a fim de que seus discípulos orassem e não desanimassem. Não que Nosso
Senhor nos queira sempre de joelhos ou trancados em nossos quartos
negligenciando os nossos deveres diários, mas o que Ele quer dizer é que nossas
almas precisam ser mantidas em atitude de oração, de modo que sejamos capazes
de dizer, como disse um bom homem em seu leito de morte, na Escócia, aos seus
amigos: ”Se pudessem estas cortinas ou estas paredes falar, elas contariam a
vocês que doce comunhão eu mantive com o meu Deus aqui”. Ó, a oração! A oração!
Ela leva o homem a Deus, e traz Deus ao homem. Ó, crentes! Se quiserem manter
seu andar com Deus, orem, orem sem cessar. Fiquem em secreto, ponham-se a orar.
E, quando vocês estiverem prestes a retornar às tarefas normais da vida cotidiana,
façam preces abundantes e enviem de tempos em tempos breves cartas para o céu nas
asas da fé. Elas irão alcançar o próprio coração de Deus e retornar para você
novamente carregadas de bênçãos espirituais.
Em terceiro lugar, santa e frequente meditação é outro abençoado meio
de um crente conservar a caminhada com Deus. “Oração, leitura, tentação e
meditação”, diz Lutero, “faz um ministro”. E também produz e aperfeiçoa um
cristão. Meditação para a alma é o mesmo que digestão para o corpo. Davi
descobriu isso, daí o porquê de estar constantemente ocupado meditando, mesmo
nas vigílias da noite. Também encontramos Isaque indo para o campo ao anoitecer
a fim de meditar. A meditação é uma espécie de oração silenciosa, por meio da
qual a alma é lentamente levada, por assim dizer, para fora de si mesma ao
encontro de Deus e, em certa medida, como aqueles espíritos abençoados, os
quais por uma espécie de intuição imediata, sempre veem a face de nosso Pai
celeste. Ninguém, exceto essas felizes almas que estão acostumadas a essa
ocupação divina, pode dizer que bendita promotora da vida divina é a meditação.
“Enquanto eu meditava”, diz Davi, “acendeu o fogo”. E enquanto o
crente medita na obra e na palavra de Deus, especialmente na obra das obras, na
maravilha das maravilhas, no mistério da piedade, “Deus manifestado em carne”,
o Cordeiro de Deus morto pelos pecados do mundo, ele frequentemente sente
acender o fogo do amor divino, e vê-se assim obrigado a usar a sua língua para
falar da ternura de Deus à sua alma. Sejam assíduos na meditação todos vocês
que desejam guardar e manter um íntimo e estável andar com o Deus Altíssimo.
Em quarto lugar, os crentes cultivam seu andar com Deus vigiando e
observando a maneira providencial como Deus está lidando com eles. Se cremos
nas Escrituras, então devemos crer no que o Senhor declara nelas: “Todos os
cabelos de vossa cabeça estão contados e nenhum pardal cairá por terra (mesmo
para apanhar um grão ou quando atingido por um caçador), sem o consentimento de
vosso Pai que está nos céus”. Toda cruz traz em si um apelo, e cada particular
dispensação da providência divina tem um objetivo a cumprir naqueles aos quais
é enviada.
Se os crentes, por conseguinte, quiserem conservar o seu andar com
Deus, de tempos em tempos devem ouvir o que o Senhor tem a dizer a seu respeito
pela voz de sua Providência. Assim, encontramos o servo de Abraão quando foi buscar
uma esposa para seu senhor Isaque, atento e vigilante à providência divina, e
foi desse modo que encontrou aquela que estava destinada para ser a esposa de
seu senhor. “Pois uma pequena dica da providência”, diz o piedoso Bispo Hall, “é
o bastante para alimentar a fé”. E eu creio que isto será parte da nossa felicidade
no céu: dar uma olhada e relembrar os vários elos da dourada corrente que nos
levou para lá. Assim, creio que aqueles que mais desfrutam do céu aqui embaixo,
nos últimos minutos, relembrarão o modo como Deus tratou com eles, no tocante
às suas providenciais dispensações aqui na terra.
Em quinto lugar, para andar bem junto de Deus, seus filhos devem não
apenas ficar atento às ações da Providência Divina fora deles, mas também às do
seu bendito Espírito em seus corações. “Pois todos os que são guiados pelo Espírito
de Deus são filhos de Deus”, os que renunciam a si mesmos para serem guiados
pelo Espírito Santo, do mesmo modo que uma criança pequena dá sua mão para ser
conduzida pela babá ou por seus pais. Não há dúvida a esse respeito: precisamos
nos converter e nos tornar como crianças pequenas.
Por isso, rogo a vocês, ó cristãos, que se atentem ao mover do
bendito Espírito de Deus em suas almas.
Em sexto lugar, aqueles que querem manter uma santa caminhada com
Deus devem andar com Ele nas ordenanças e providências. Por isso, está
registrado que Zacarias e Isabel “eram justos diante de Deus e andavam
irrepreensivelmente em todos os preceitos e mandamentos do Senhor”. Todo
cristão corretamente instruído considerará os mandamentos, não como algo
desprezível, mas sim como canais condutores por meio dos quais o infinitamente
afável Jeová comunica sua graça a alma dos homens. O cristão reputá-los-á como
o pão das criancinhas e como seu mais alto privilégio. Consequentemente, ele se
alegrará quando ouvir outros dizerem: “Vamos à Casa do Senhor”. Ele se regozijará
em estar no lugar onde mora a glória de Deus, e ficará muito desejoso de aproveitar
todas as oportunidades para manifestar a morte do Senhor Jesus até que Ele
venha.
Em sétimo e último lugar, se você quer andar com Deus, se unirá e
andará com aqueles que também andam com Ele. “Meu deleite”, diz o rei Davi,
“está naqueles que me sobrepujam” em virtude. E, sem dúvida, os primeiros cristãos
conservavam seu vigor e primeiro amor porque se mantinham em união e amizade
uns com os outros. O apóstolo Paulo sabia disso muitíssimo bem e, portanto,
exorta os cristãos a observarem isto e para que não deixassem sua congregação.
Pois como pode alguém sozinho se aquecer? E não foi o mais sábio dos homens que
nos disse: “O ferro com o ferro se afia, assim o homem ao seu amigo”. Logo, se
olharmos a história da igreja ou observarmos com justiça o nosso próprio tempo,
eu creio que descobriremos que, enquanto o poder de Deus predomina, as sociedades
cristãs e as reuniões de comunhão predominam na mesma proporção. Sendo assim, é
necessário que aqueles que desejam andar com Deus ajuntem-se sempre que for
oportuno a fim de estimular uns aos outros ao amor e às boas obras.
Prosseguindo, vamos propor alguns motivos que atraiam a todos a vir e
andar com Deus.
Primeiro, andar com Deus é algo muito apreciável. Esse é, em geral, o
motivo preponderante para estimular pessoas de todos os tipos a assumirem algum
importante compromisso. Eu suponho que todos vocês achem ser uma grandíssima
honra ser admitido na reunião íntima de um príncipe terreno, que lhe confia
seus segredos e dá-lhes sua atenção em todo o tempo e ocasião. Parece que Hamã
assim pensou quando se gabou de que fora “exaltado sobre os príncipes e servos
do rei” (Ester 5.11); mais ainda: “a rainha Ester a ninguém fez vir com o rei
ao banquete que tinha preparado, senão a mim; e também para amanhã estou
convidado por ela juntamente com o rei”. E quando mais tarde uma pergunta foi
feita a esse mesmo Hamã, Et 6.6 “Que se fará ao homem que o rei desejar
honrar?”, ele respondeu, v. 8: “tragam-se as vestes reais, que o rei costuma
usar, e o cavalo que o rei costuma andar montado, e tenha na cabeça a coroa
real; entreguem-se as vestes e o cavalo às mãos dos mais nobres príncipes do
rei, e vistam delas aquele a quem o rei deseja honrar, levem-no a cavalo pela
praça da cidade e diante dele apregoem: Assim se faz ao homem a quem o rei
deseja honrar.” Isso parece que era tudo o que o ambicioso Hamã podia pedir, e
o que de mais valioso ele achou que o rei Assuero, o maior monarca de toda a
terra, poderia dar. Mas o que é essa honra comparada à que recebe o mais
pequenino dos homens que anda com Deus? Pensem, senhores, é coisa pequena ter o
segredo do Senhor dos senhores com vocês e serem chamados amigos de Deus? E tal
honra a possuem todos os santos de Deus. O segredo do Senhor está com os que o
temem, e “daqui em diante (diz o bendito Jesus) não os chamarei mais de servos,
mas de amigos, pois o servo não sabe o que faz o seu senhor”. Seja o que for
que vocês pensem sobre isso, o rei Davi tinha tanta percepção da honra que
acompanha aqueles que andam com Deus que declara: “prefiro estar à porta da
casa de meu Deus do que permanecer nas tendas da perversidade”. Ó, que todos pensemos
como ele!
Segundo, assim como é digno de honra, também é muito agradável caminhar
com Deus. O mais sábio dos homens nos disse: “os caminhos da sabedoria são
deliciosos e suas veredas paz”. E eu me lembro que o piedoso senhor Henry, quando estava já
para morrer, disse a um amigo: “Você tem ouvido as palavras de muitos homens
moribundos e estas são as minhas: Uma vida vivida em comunhão com Deus é a vida
mais prazerosa do mundo!” Com segurança, confirmo que isso é verdadeiro.
Deveras, fui alistado sob o estandarte de Jesus somente há poucos anos, no
entanto, eu tenho encontrado mais firme prazer em um único momento de comunhão
com meu Deus do que eu o teria ou poderia ter nos caminhos do pecado mesmo que
eu tivesse prosseguido no pecado por milhares de anos. E diante dessa verdade,
poderia eu não apelar a vocês que temam e andem com Deus? Não lhes vale um dia
nos átrios do Senhor, mais que mil anos? Em guardar os mandamentos de Deus, não
encontraram vocês um presente e uma mui grande recompensa? Não tem sido a sua
palavra mais doce do que o mel para vocês? Ó! o que sentem quando, como Jacó,
estão lutando com Deus? Não os tem Jesus encontrado enquanto meditam no campo e
não tem se dado a conhecer repetidas vezes no partir do pão? Não tem o Espírito
Santo frequentemente derramado abundantemente em seus corações o amor divino e
os enchido de uma alegria indizível repleta de glória? Eu sei que vocês
responderão a tais perguntas afirmativamente e de modo espontâneo reconhecerão
que o jugo de Cristo é suave e seu fardo leve e em “seu serviço há perfeita
liberdade”. Que outros motivos mais precisamos para nos animar a andar com
Deus? Parece-me ouvir alguém dizer: “Como isto pode ser”? Pois, se andar com
Deus é algo apreciável e agradável, então, por quê o nome do povo que segue tal caminho é rejeitado como coisa má e por todas as partes
dele se fala contra? Como pode ser frequentemente afligido, tentado, privado
dos meios de subsistência e levado ao suplício? É essa a honra, é esse o prazer
de que você fala?” Eu respondo: Sim. Pare por um momento; não seja precipitado
demais. Não julgue conforme a aparência, mas segundo a reta justiça, e tudo
ficará bem. É verdade, nós reconhecemos que “o povo de Deus”, como você, e
Paulo antes de você, quando é intimado por um perseguidor, é rejeitado, tido
por mau, como uma “seita” de que se fala contra em todos os lugares. Mas quem
faz isso? Precisamente os inimigos do Deus Altíssimo. E você julga uma desgraça
eles falarem mal de você? Bendito seja Deus, não é assim que aprendemos de
Cristo. Nosso Mestre ilustre disse isto: “Bem-aventurados sois quando por minha
causa, vos injuriarem e perseguirem, e, mentindo, disserem todo o mal contra
vós”. E Ele ordenou: “Regozijai-vos e estejam sobremodo alegres”, pois isso é
um privilégio para os que são seus discípulos, e sua recompensa será grande no
céu. Ele próprio foi tratado dessa forma. E pode haver uma honra maior para uma
criatura do que ser conformada ao eternamente bendito Filho de Deus? Além do
que, é igualmente verdade que o povo de Deus é afligido, tentado, privado de
recursos e torturado. Mas e daí tudo isso? Isso destrói o prazer de andar com
Deus? Não, de maneira nenhuma, pois esses que andam com Deus são capacitados,
através da força que Cristo lhes vai dando, a alegrarem-se mesmo nas
tribulações e a regozijarem-se mesmo quando mergulham em tentações. E eu
acredito — e posso apelar para a experiência de todos os que verdadeira e
intimamente caminham com Deus — que os mais doces momentos foram os de
sofrimentos, nos quais eles mais se alegraram no Senhor. Descobrimos que esse
foi o caso dos primeiros servos de Cristo, quando ameaçados pelo Sinédrio judaico
e ordenados a não mais pregarem no nome de Jesus: eles regozijaram-se por serem
achados dignos de sofrer afronta por causa de Jesus. Paulo e Silas louvaram a
Deus até em um cárcere; e a face de Estevão, esse glorioso home de Deus,
brilhou como a de um anjo. Jesus é o mesmo tanto agora como o foi outrora, e
cuida com amor, de forma tão doce, aliviando os sofrimentos e aflições para que
seus discípulos descubram, através de uma feliz experiência, que, quanto mais
abundam as aflições, muito mais abundam as consolações. Portanto, todas essas
objeções, em vez de destruir, somente reforçam os motivos recomendados acima,
para estimular você a andar com Deus. Mas, supondo que não cessassem as objeções eu teria uma terceira razão para
apresentar, a qual, se pesada na balança do santuário, pesará mais do que todas
as objeções, a saber, que há um céu no final dessa caminhada. E, para usar as
palavras do piedoso bispo Beveridge, “Ainda que o caminho seja estreito, ainda
assim ele não é muito longo: e ainda que o portão seja estreito, ele dá acesso
para a vida sem fim”. Enoque encontrou-o. Ele andou com Deus aqui na terra e
Deus o tomou para assentar-se com Ele no Reino dos Céus. Não que esperemos ser
trasladados como ele foi: mas suponho que morreremos a morte normal de todos os
homens. Porém, depois da morte, o espírito daqueles que andaram com Deus
retornarão para Aquele que lhes deu, e na manhã da ressurreição, alma e corpo
estarão para sempre com o Senhor; seus corpos serão feitos semelhantes ao
glorioso corpo de Cristo, e suas almas preenchidas de toda a plenitude de Deus.
Eles serão capazes de suportar um extraordinário e eterno peso de glória, precisamente
aquela glória que Jesus Cristo gozava junto com o Pai antes do início do mundo.
Como o bom Dr. Watts expressou, e fazendo uso da zelosa linguagem do nobre salmista: “Minha alma tem sede do Deus
vivo. Quando irei e me verei perante a face de meu Deus?”. Não faço ideia de
como será isto, já que a mais comum irradiação e influxo da vida e do amor
divino fazem com que algumas pessoas desfaleçam e, por algum tempo, até percam
os sentidos. E, se uma visão distante dessa
glória é assim tão excelente o que deve ser a posse real dela? Se as primícias
são tão gloriosas, quão infinitamente excederá em glória a colheita? E agora, o
que eu devo ou, de fato, o que eu posso ainda dizer para bem estimular a você,
precisamente você, que ainda é estranho para Cristo, para que venha e ande com Deus?
Venham, revistam-se do Senhor Jesus. Venham, apressem-se e andem com Deus, e
não façam mais provisões para a carne a fim de preencher a concupiscência dela.
Parem Ó, pecadores, voltem homens não
convertidos, pois o caminho pelo qual vocês agora andam, por mais direito que
possa parecer aos seus olhos, terá por fim a morte, precisamente, a destruição
eterna de ambos corpo e alma. Não se atrasem mais, eu digo: Vocês estão em
perigo, eu exorto-os a não dar mais um passo no seu atual caminho. Pois, o que
você sabe, ó homem, senão que seu próximo passo poderá levá-lo ao inferno? A
morte poderá agarrá-lo, o juízo o encontrará e então, um grande abismo estará
entre você e a glória sem fim para sempre. Ó, pense nessas coisas, todos vocês
que não estão ainda dispostos a andar com Deus. Ponha-as no seu coração.
Reconheçam que estão naquele caminho e, na força de Jesus Cristo, digam: Adeus,
concupiscência da carne, eu não mais andarei com você! Adeus concupiscência dos
olhos e orgulho da vida! Adeus, amigos da carne e inimigos da cruz, eu não mais
andarei nem terei intimidade com vocês! Bem vindo Jesus, bem vinda Sua palavra,
bem vindos Seus mandamentos, bem vindo Espírito Santo, bem vindo povo de Deus,
doravante andarei com vocês. Ó, que haja em você tal disposição! Deus colocará
sua poderosa sanção e selará isso com o grande selo do céu, o selo do seu Santo
Espírito. Sim, Ele o colocará, mesmo que desde o seu nascimento você tenha andado e seguido os ardis e desejos de seus corações desesperadamente maus.
“Eu, o Alto e o Sublime”, diz o grande Jeová, “que habito a eternidade, morarei
com o de coração contrito e humilde, precisamente com o homem que treme diante
da minha palavra”. O sangue, o precioso sangue de Jesus Cristo, se você vier ao
Pai, NELE e através dEle, limpá-lo-á de todo o pecado.
Só me resta despertar suas mentes a suplicar pela misericórdia de
Deus em Cristo Jesus: prestem atenção em si mesmos, andem sempre mais perto de
Deus conforme passam os dias, pois, quanto mais perto de Deus andarem, mais O
apreciarão, pois sua presença é vida, e ficarão mais bem preparados para serem
colocados à sua mão direita, onde há delícias perpetuamente. Ó, não sigam Jesus
à distância! Não sejam tão formais, ou estúpidos no cumprimento dos santos
preceitos! Não abandonem vergonhosamente a sua congregação, não sejam avarentos
ou indiferentes para com as coisas de Deus. Lembrem o que Jesus disse da igreja
de Laodicéia: “Porque vocês não são frios nem quentes, vou vomitá-los de minha
boca”. Pensem no amor de Jesus, e que esse amor constranja-os a se conservarem
próximos dEle, e ainda que vocês morram por Ele, não o neguem, não fiquem
distantes dEle de modo nenhum. A bíblia fala a respeito daqueles que têm a
honra de serem denominados embaixadores de Cristo e mordomos dos mistérios de
Deus.
Embora Enoque esteja com Deus, não nos inspira ele para avivar nosso
zelo e nos tornar mais ativos no serviço de nosso glorioso e eternamente
bendito Mestre?
Ainda por um pouco de tempo e entraremos no nosso descanso e daqui a
algum tempo nossa caminhada estará terminada. O Juiz está à porta: Aquele que
vem virá, e não tardará: e com Ele seu galardão. E, daqui a pouco, nós todos
(se formos zelosos pelo Senhor dos Exércitos) brilharemos para sempre como
estrelas do firmamento, no Reino de nosso Pai celestial, para sempre e
eternamente. Para o Pai, o bendito Jesus e o Espírito Eterno, seja toda a honra
e a glória, agora e para toda a eternidade.
Deus
abençoe sua vida!
Tradução:
Francisco Coelho
Revisão: Vanderson Moura da
Silva
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